ANTONIO GOIS e PEDRO SOARES da Folha de S.Paulo, no Rio.
Acordar cedo, trabalhar o dia todo, chegar tarde e ainda cuidar da casa e preparar o jantar para a família. Tal rotina era compartilhada em 2004 por 91,3% das mulheres brasileiras que trabalhavam fora. Elas destinavam 22 horas por semana, em média, aos afazeres domésticos.
Em 2004, 35,4 milhões de mulheres estavam ocupadas -- dessas, 32,3 milhões também se dedicavam aos serviços domésticos.
A dupla jornada não era tão freqüente entre os homens -- 46,3% dos que trabalhavam também cuidavam de afazeres domésticos, de acordo com a Síntese dos Indicadores Sociais, publicação do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) feita com base em dados da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) de 2004.
Mesmo entre os que ajudam em casa, a repartição do trabalho doméstico também não era das mais justas: os homens gastam cerca de dez horas semanais com os cuidados da casa. Supondo uma jornada de 8 horas nos cinco dias úteis da semana, os homens destinavam quase 2 horas diárias ao trabalho no lar, enquanto as mulheres gastavam 4 horas e 24 minutos diários adicionais a essa atividade.
"A mulher acaba acumulando o trabalho fora com os afazeres da casa", analisa o presidente do IBGE, Eduardo Nunes.
Em São Paulo, 88,4% das trabalhadoras também se dedicavam aos serviços domésticos, dispondo, em média, de cerca de 20 horas semanais com isso.
Mesmo mais dedicadas ao lar, as mulheres permanecem por mais tempo na escola: as que estavam empregadas têm, em média 8,6 anos de estudo, contra 7,6 anos dos homens. Segundo o IBGE, as explicações para o maior nível de estudo das mulheres é que o fato de estarem menos inseridas no mercado de trabalho -- 73,2% dos homens com mais de dez anos de estudo trabalham, contra 51,6% das mulheres -- e de se ocuparem mais tardiamente.
Remuneração
Mais anos de estudo não garantem, porém, uma remuneração igual para as mulheres. O rendimento/hora feminino (R$ 4,20) correspondia a 84% da renda média dos homens -- R$ 5.
Quando analisado o rendimento médio mensal, porém, a diferença era maior: a renda das mulheres (R$ 644,80) representava 77,33% da dos homens (R$ 833,80).
Quanto mais anos de estudo, maior é a distância do rendimento feminino para o masculino, revela o IBGE. Na faixa de 12 anos de estudo ou mais (ao menos superior incompleto), as mulheres ganhavam por hora (R$ 10,10) 62% do rendimento masculino (R$ 16,40).
A diferença era menor no grupo com até quatro anos de estudo: a renda feminina (R$ 2,10) correspondia a 84% da dos homens (R$ 2,60).
Para Ana Lúcia Sabóia, coordenadora da Síntese de Indicadores Sociais, a diferença do padrão de renda de homens e mulheres, mesmo quando considerado o rendimento por hora, derruba o argumento de alguns especialistas de que as mulheres ganham menos por estarem inseridas parcialmente no mercado de trabalho.
Os dados mostram ainda que o emprego feminino é de pior qualidade e que menos mulheres conseguem atingir o topo de suas carreiras. Em 2004, 26,2% das trabalhadoras eram não remuneradas (especialmente aquelas que ajudam os maridos que trabalham por conta própria) ou domésticas, percentual superior ao de mulheres com carteira de trabalho assinada --25,7%. Entre os homens, 33,8% eram empregados registrados formalmente.
Segundo o IBGE, só 3,9% das mulheres empregadas estavam, em 2004, em cargos de direção --ou 1,379 milhão. No caso dos homens, o percentual era de 5,5%. O Distrito Federal tinha o mais elevado percentual de mulheres em cargos de direção (8%) em razão do maior número de mulheres no serviço público, cujo ingresso ocorre principalmente por concurso público.
Pesquisa
A Síntese de Indicadores Sociais tem como principal base de dados a Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) de 2004. A publicação reúne ainda dados da Pesquisa de Registro Civil, com informações de mortalidade infantil, casamentos, divórcios e mortes por causas externas.
A Pnad é uma pesquisa feita numa amostra representativa dos domicílios do país e investiga desde informações sobre emprego, rendimento, condições e tipos de moradia, serviços públicos (água, saneamento e outros) até acesso a bens duráveis (geladeira e outros). A maior parte dos dados da Pnad foram apresentados em outubro de 2005. No mês passado, o IBGE divulgou um suplemento sobre programas oficiais de transferências de renda e educação.
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