segunda-feira, abril 03, 2006

Reportagem do Jornal O DIA de hoje:

Três pessoas em cativeiro e MV Bill se cala
Causou indignação entre autoridades e estudiosos de segurança pública a revelação de que documentaristas preferiram silenciar


Alexandre Arruda e Bruno Menezes (repórteres de O Dia)

RIO - MV Bill gosta de se apresentar como ‘Mensageiro da Verdade’. Tanto que adotou a sigla MV para seu nome artístico. Mas de pelo menos uma verdade ele preferiu não ser o mensageiro: a de que viu seqüestrados em cativeiro. A descrição das três pessoas “amarradas e encapuzadas esperando a morte chegar” está no livro que conta bastidores do documentário ‘Falcão - Meninos do Tráfico’, produzido por ele e seu parceiro, Celso Athayde. Os telespectadores do especial do ‘Fantástico’, da TV Globo, nunca souberam disso. Os leitores, apenas na semana passada, quando o livro foi lançado. Para a polícia, a mensagem jamais chegou. Bill foi um MO: ‘Mensageiro da Omissão’. A O DIA, Athayde confessa ter deixado de lado aquelas vidas e que é “menos feliz por isso”.

A revelação de que nunca alertaram sobre o cativeiro e que três vidas estavam ameaçadas foi feita ontem, na coluna “Ai, que Loucura!”, de O DIA. Para o rapper, “o grande mérito do documentarista é não interferir na realidade filmada”.

Ele diz que não estava ali “para isso”. No entanto, a atitude do cantor e Athayde — que estava ao seu lado no cativeiro — foram duramente criticadas por parlamentares, criminalistas, estudiosos, e agentes de segurança pública, que vêem no ato um caso claro de omissão e descaso com a vida humana.

“Há limites”, diz Cano "
Acima do documetário, do trabalho importante que eles estavam fazendo, há a necessidade imperial de salvar essas vidas que, provavelmente, já se acabaram também. Nossa senhora. É uma tristeza", desabafou o deputado federal Chico Alencar (PSOL-RJ). Já o sociólogo Ignácio Cano, membro do Laboratório de Análise da Violência e professor da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj), todo trabalho de pesquisa possui parâmetros. “Há limites e, se há pessoas que vão ser mortas, para mim esse seria o limite.”

Os documentaristas ainda podem ter que se explicar na Comissão de Segurança Pública e Combate ao Crime Organizado da Câmara dos Deputados. Segundo o presidente da comissão, José Militão (PTB-MG), uma reunião, na quarta-feira, decidirá o rumo da história. “Se uma reportagem que causa uma indignação enorme em todo o País omite um fato desse que, talvez, seja um dos mais relevantes, é lógico que a gente tem que investigar isso."

Em defesa de Bill e Athayde está o antropólogo Luiz Eduardo Soares, com quem escreveram o livro Cabeça de Porco. "Eu não acredito. Eu não acredito que tenha sido assim. Conhecendo os dois como conheço, não acredito que tenha sido assim.”

Já para os parentes do jornalista Ivandel Godinho, sequestrado em São Paulo, em outubro de 2003, e nunca resgatado, Bill cometeu um ato contra a vida humana. "Aí, dane-se a ética profissional, dane-se o furo de reportagem. Se você pode salvar a pessoa, você tem que salvar", afirma Ivens Godinho, 55, irmão do jornalista.

Para Ivens, o ser humano banalizou a violência. “Acho que se você tem condições de ajudar alguém, esteja a pessoa em qualquer situação, você tem que fazer a tua parte. Ele teve a chance, deixou passar e agora tá tentando tirar a culpa dele”, explicou Ivens, que acredita que MV Bill não teria agido da mesma forma se as vítimas fossem de sua família.



E você, o que pensa sobre o assunto? MV Bill foi conivente com os criminosos ao omitir o seqüestro de três pessoas durante a gravação do documentário? Opine, aqui mesmo, clique no "comments" ou no envelope abaixo.

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